Se queres subir a uma montanha atira para lá o coração

– por Cristina Palhares

Aproximando-se o Congresso internacional da ANEIS, este ano em Coimbra e dedicado ao tema “Saberes Consolidados e Desenvolvimentos Promissores” urge repensar a importância do desenvolvimento de talentos na escola. Já em 1986, a Professora Eunice Alencar, do Brasil, na primeira edição do seu livro “Psicologia e educação do superdotado” (sobredotado em língua portuguesa), chamava a atenção para a importância do desenvolvimento dos talentos e para a implementação de programas educacionais específicos para estes alunos.

Dizia ela: “… o futuro de qualquer nação depende da qualidade e competência de seus profissionais, da extensão em que a excelência for cultivada e do grau em que condições favoráveis ao desenvolvimento do talento, (…), estiverem presentes desde os primeiros anos da infância”. (…) “O fato de que uma boa educação para todos não significa uma educação idêntica para todos tem levado a um interesse crescente pelos alunos mais competentes e capazes, a par de uma consciência de que um sistema educacional voltado apenas para o estudante médio e abaixo da média pode significar o não-reconhecimento e estímulo do talento e, consequentemente, o seu não-aproveitamento”. Hoje, quer a escola, quer a família, quer a sociedade têm esta responsabilidade: no reconhecimento, no estímulo, no aproveitamento dos talentos humanos e/ou dos seus potenciais nas diversas áreas do saber humano, identificando e potencializando ao máximo.

Neste congresso congregaremos variadíssimos tópicos da investigação e da intervenção que desde o México, ao Brasil, a França e à Alemanha, à nossa vizinha Espanha e a todos os pontos do nosso país onde temos delegações sediadas de mãos dadas com as universidades, para se conhecer melhor as características deste grupo, de lhes dar melhores respostas no contexto escolar e familiar, nas suas necessidades afetivas e cognitivas específicas, fomentando mais pesquisas na área e essencialmente no desenvolvimento de políticas públicas nacionais que favoreçam o reconhecimento, o estímulo e o aproveitamento dos nossos potenciais humanos.

A Professora Zenita Guenther, do Brasil, e que frequentemente nos acompanha nos nossos congressos e processos de formação lembra-nos que “a capacidade e talento humano se desenvolvem, e se expressam em produção superior, desde que o potencial seja identificado, estimulado, acompanhado e orientado”, reforçando assim a necessidade de enriquecimento escolar, curricular, extracurricular, do desenvolvimento harmonioso, que estas crianças/jovens merecem. Sem estes fatores, sem dúvida, os talentos mais promissores na nossa sociedade serão desperdiçados. Este é um dos grandes desafios que teremos que enfrentar. Se temos ou não capacidade de dar resposta e acima de tudo se queremos ou não dar resposta.

No aniversário da Escola da Psicologia da Universidade do Minho, na semana passada, tive também a oportunidade de ouvir o Professor Pedro Rosário, numa das suas sempre apaixonantes intervenções, falar sobre o potencial como aquilo que não se vê. O potencial é sempre algo que qualquer indivíduo apresenta, seja em grau de conhecimento, criatividade, competência e habilidades, que podem ser semelhantes ou bem diferentes umas das outras. Este potencial é desenvolvido com o tempo e começa ainda na infância, tendo influência da cultura local e global, dos pais, familiares e amigos.

Saibamos pois identificar esse potencial, potenciando-o (desculpem a redundância) tornando-o no talento que brilha e faz brilhar quem está ao seu redor. Quantas vezes, com medo que o brilho dos outros nos ofusque, nos permitimos abafar a luz que estas crianças/jovens imanam… o brilho deles será o nosso brilho. Disso não tenho a menor dúvida. O Professor Pedro Rosário abrilhantou a sua intervenção com uma frase que relembro tantas vezes: “se queres subir a uma montanha atira para lá o coração”. Sem dúvida, Professor. Eu já atirei o meu!

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